Sardinheiras
Um dia ele seguiu-meDa água onde eu moravaCumprimentou-me, fugiu-meE a outro dia lá estava.
Atirei-lhe de trapeiraDa minha água furtada,Uma rubra sardinheiraQue se tornou mais corada.
Depois, nunca mais o vi,Nem do seu olhar a chama,Passou tempo, descobriQue ele morava na Alfama.
Uma noite, sem pensar,Pus o meu xaile, meu lençoE fui atrás desse olharQue deixara o meu suspenso.
Hoje moro onde ele mora,Hoje durmo onde ele dorme,E só olho por dentro e por foraDa minha alegria enorme.