Fado tropical
Oh, musa do meu fado,Oh, minha mãe gentil,Te deixo consternadoNo primeiro abril,
Mas não sê tão ingrata!Não esquece quem te amouE em tua densa mataSe perdeu e se encontrou.Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!
"Sabe, no fundo eu sou um sentimental.Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo (além da sífilis, é claro).Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidarO meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."
Com avencas na caatinga,Alecrins no canavial,Licores na moringa:Um vinho tropical.E a linda mulataCom rendas do alentejoDe quem numa bravataArrebata um beijo...Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!
"Meu coração tem um sereno jeitoE as minhas mãos o golpe duro e presto,De tal maneira que, depois de feito,Desencontrado, eu mesmo me contesto.
Se trago as mãos distantes do meu peitoÉ que há distância entre intenção e gestoE se o meu coração nas mãos estreito,Me assombra a súbita impressão de incesto.
Quando me encontro no calor da lutaOstento a aguda empunhadora à proa,Mas meu peito se desabotoa.
E se a sentença se anuncia brutaMais que depressa a mão cega executa,Pois que senão o coração perdoa".
Guitarras e sanfonas,Jasmins, coqueiros, fontes,Sardinhas, mandiocaNum suave azulejoE o rio AmazonasQue corre trás-os-montesE numa pororocaDeságua no Tejo...Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:Ainda vai tornar-se um império colonial!Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:Ainda vai tornar-se um império colonial!