Minha História
Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicarEu só sei que falava e cheirava e gostava de marSei que tinha tatuagem no braço e dourado no denteE minha mãe se entregou a esse homem perdidamente
Laiá, laiá, laiá, laiá...
Ele assim como veio partiu não se sabe pra ondeE deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longeEsperando, parada, pregada na pedra do portoCom seu único velho vestido, cada dia mais curto
Laiá, laiá, laiá, laiá...
Quando enfim eu nasci, minha mãe embrulhou-me num mantoMe vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santoMas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulherMe ninava cantando cantigas de cabaré
Laiá, laiá, laiá, laiá...
Minha mãe não tardou alertar toda a vizinhançaA mostrar que ali estava bem mais que uma simples criançaE não sei bem se por ironia ou se por amorResolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor
Laiá, laiá, laiá, laiá...
Minha história e esse nome que ainda carrego comigoQuando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigoOs ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruzMe conhecem só pelo meu nome de menino Jesus
Laiá, laiá...
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruzMe conhecem só pelo meu nome de menino Jesus
Laiá, laiá, laiá, laiá.