Severino; O Rio; Notícias do Alto Sertão
- O meu nome é Severino,como não tenho outro de pia.Como há muitos Severinos,que é santo de romaria,deram então de me chamarSeverino de Maria;como há muitos Severinoscom mães chamadas Maria,fiquei sendo o da Mariado finado Zacarias.Mas isso ainda diz pouco:há muitos na freguesia,por causa de um coronelque se chamou Zacariase que foi o mais antigosenhor desta sesmaria.
Sempre pensara em ircaminho do mar.Para os bichos e riosnascer já é caminhar.Eu não sei o que os riostêm de homem do mar;sei que se sente o mesmoe exigente chamar.Eu já nasci descendoa serra que se diz do Jacarará,entre caraibeirasde que só sei por ouvir contar(pois, também como gente,não consigo me lembrardessas primeiras léguasde meu caminhar).
Deste tudo que me lembro,lembro-me bem de que baixavaentre terras de sedeque das margens me vigiavam.Rio menino, eu temiaaquela grande sede de palha,grande sede sem fundoque águas meninas cobiçava.Por isso é que ao descercaminho de pedras eu buscava,que não leito de areiacom suas bocas multiplicadas.
Por trás do que lembro,ouvi de uma terra desertada,vaziada, não vazia,mais que seca, calcinada.De onde tudo fugia,onde só pedra é que ficava,pedras e poucos homenscom raízes de pedra, ou de cabra.Lá o céu perdia as nuvens,derradeiras de suas aves;as árvores, a sombra,que nelas já não pousava.Tudo o que não fugia,gaviões, urubus, plantas bravas,a terra devastadaainda mais fundo devastava.